Carros, Cigarros e Outros Canos Fumegantes: O Charme Reacionário da Motorização no Brasil

Dos Caminhoneiros aos Ex-pilotos de Fórmula 1, como os grupos motorizados tomaram a linha de frente do conservadorismo verde e amarelo

Bicicleteiros
36 min readNov 16, 2021

Por George Queiroz

1976. Infeliz foi o dia em que Gerson, o meia esquerda “canhotinha de ouro” foi pago para estrelar um comercial dos cigarros Vila Rica e incentivar o tabagismo da juventude dos anos 70. Com seu jeitão de tio do churrasco, no conforto de seu sofá, entre uma e outra baforada, o “cérebro da seleção” lançou o lema macunaímico “Eu gosto de levar vantagem em tudo!”.

Mas esse texto não é bem sobre cigarros, mas sobre outro produto que também faz mal e solta fumaça: carros. Por aqui levantarei algumas pistas sobre como a mobilidade motorizada se tornou elemento chave na formação de grupos reacionários de papel fundamental na eleição do extremista Jair Bolsonaro e que ainda hoje seguem nas ruas fazendo barulho e fumaça em defesa de seu governo.

Carros e vantagens

Primeiro, vamos compreender a nossa relação com esse produto. Assim como nos cigarros, nós também compramos carros para levar vantagem. O automóvel nasceu como um luxo para pouquíssimos. E mesmo que com as décadas ele tenha chegado às classes médias e até a uns e outros remediados, ele ainda é um produto de custo e manutenção elevados. A posse de um veículo ainda simboliza a ascensão social, e não são poucos os que contraem dívidas para ter e manter esse patrimônio. Ainda assim, mesmo nas maiores metrópoles brasileiras, a porcentagem da população que utiliza veículos particulares motorizados mal ultrapassa 30% — obviamente o terço de cima de nossa pirâmide sócio-econômica.

É fato que o automóvel é uma máquina incrível. Sentado em um banco acolchoado e protegido por uma cápsula metálica, o carro te leva aonde você quiser em altíssima velocidade, sem qualquer esforço físico, em troca de um pouco de combustível. Mais do que somente a vantagem no tempo, a posse de um carro dá ao seu dono a vantagem de utilizar com exclusividade a maior e melhor parte do espaço público das cidades — as ruas.

O fascínio pelas vantagens de estar em um automóvel, cantada em verso e prosa pela música, glamourizada pelo cinema e bombardeada pela publicidade, induziu governos a despender a maior parte de recursos públicos para construir extensas redes de ruas, avenidas, estradas, vias expressas, pontes, túneis, viadutos para garantir a circulação livre e sem obstáculos desses bólidos. O valor de cada obra rodoviária é sempre estratosférico, muitas vezes bilionário, e esse dinheiro é gasto sem qualquer resistência. É portanto uma fonte histórica de transferência de recursos socialmente produzidos para usufruto das camadas mais altas, além de uma alocação desproporcional de solo público. Não é raro o poder público ser o maior detentor de terras de qualquer metrópole, e a decisão de asfaltar a maior parte desse solo e transformá-lo em faixas de rolamento é uma decisão política que confere óbvia vantagem àqueles que compram o privilégio de poder ocupar esse espaço.

Um século depois, a cultura do automóvel se tornou hegemônica a ponto de mal pensarmos no alcance subjetivo de tamanha dominação. Os carros podem causar engarrafamentos diários, poluição do ar, barulho, doenças respiratórias, aquecimento global, matar milhões de seres humanos e animais em “acidentes”, lotar hospitais, mutilar pessoas, dividir comunidades, endividar governos, que não há o que faça com que a sua dominação seja questionada pela sociedade.

Se o tabagismo um dia exaltado por Gerson hoje é condenado como não era há poucas décadas, inclusive com restrições legais ao seu uso e à sua publicidade, não existe qualquer constrangimento social em vermos uma pessoa utilizando um carro, na exibição de um comercial de TV de um SUV ou um governo construindo mais um anel rodoviário por alguns bilhões de reais. As cidades e países se organizaram em torno do deslocamento individual motorizado de pessoas e produtos, e o tempo naturalizou esse modelo. A vantagem individual dos motores foi a força que espraiou as cidades, deportou os pobres para as periferias e fincou no mapa a estrutura desigual da sociedade.

De tão naturalizada, a motorização enraizou-se não só concretamente, mas na subjetividade. “Leve vantagem você também” não é um lema sobre antiética, mas também sobre uma sociedade que construiu espaços simbólicos para que a vantagem das classes dominantes sejam exercidas de forma natural. As minorias que se adequem, ou simplesmente desapareçam. E os carros, assim como as armas de fogo, hoje são instrumentos não só de obtenção de vantagem, mas do exercício do domínio físico e simbólico de uma classe.

1º ATO — Os caminhoneiros e o Bolsonarismo na estrada

A dependência dos deslocamentos por veículos individuais motorizados desnudou-se no Brasil em maio de 2018, quando uma única classe de trabalhadores descobriu que podia parar com facilidade o país. O Presidente da República era Michel Temer, político de centro, discreto e sem nenhum carisma, que aceitou se tornar o principal beneficiário do golpe parlamentar contra a presidenta petista Dilma Rousseff, demovida do cargo por…pedalar. A Michel foi dada a missão de atender aos desejos dos grupos que avalizaram sua ascensão ao poder — para isso foi criada a “Ponte Para O Futuro”, que não era um projeto rodoviário de ficção científica, mas sim o compromisso de desidratar as políticas de inclusão social implementadas na era petista e acentuar a guinada de austeridade neoliberal há muito desejada pela burguesia.

Descontentes com o aumento de preços de combustíveis resultante da política liberal na Petrobrás imediatamente adotada pelo governo Temer, os caminhoneiros pararam o país em apenas 5 dias. Nesse tempo, o desabastecimento de combustíveis paralisou tanto a locomoção da classe média em seus carros quanto o transporte de massa, que no Brasil é feito majoritariamente por ônibus movidos à diesel.

A greve de uma única categoria de transportes mostrou com clareza como o país é dependente do modelo rodoviarista imposto ao Brasil nas últimas décadas, que antecede até o governo JK com a chegada das montadoras e atravessa o período da ditadura militar, que adotou a expansão rodoviária como vitrine de governo (em obras faraônicas que enriqueceram as empreiteiras como a Ponte Rio-Niterói e a Rodovia Transamazônica) ao mesmo tempo em que enferrujou a razoável estrutura de transporte sobre trilhos existente no país.

Mesmo os governos petistas pouco puderam fazer para reverter essa dependência — o Ministério dos Transportes, pasta de orçamento vultoso, foi durante todo esse tempo reservada ao centrão, mais especificamente ao PL (Partido Liberal), enquanto as montadoras de automóveis seguiram recebendo generosos incentivos fiscais bilionários como isenções de IPI e financiamentos via BNDES.

A diferença entre a greve dos caminhoneiros de 2018 para as greves operárias tradicionais que conhecemos é que esse era um movimento abertamente conservador, que rejeitava a organização sindical, que não se aliava abertamente a partidos políticos e que se alinhava aos interesses do empresariado, a ponto de muitos avaliarem que o movimento tinha elementos de locaute.

A maioria dos caminhoneiros são “freelancers”: com posse de seu veículo, trabalham individualmente, por empreitada e recebem de forma autônoma, em configuração bastante diferente das fábricas de onde saíram os movimentos operários de esquerda.

Apesar de não pertencerem à classe alta, os caminhoneiros não são conservadores de ocasião. No Chile, em 1973, essa mesma categoria fez uma grande greve contra o governo do presidente Salvador Allende, provocando uma crise de abastecimento que foi instrumental para o movimento que culminou no seu assassinato e na instauração da ditadura militar do general Augusto Pinochet. Em 1999, no Brasil, também bloquearam estradas. Entre as demandas daquela época, estava a revisão do sistema de pontos por multas adotada pelo Código de Trânsito Brasileiro dois anos antes. Essa reivindicação só seria atendida 21 anos depois, já na presidência do ex-militar Jair Bolsonaro.

Em 2015 esse movimento já tinha feito uma greve pedindo a renúncia de Dilma Rousseff e a anulação das eleições de 2014.

Em 2018, a organização do movimento já era totalmente descentralizada, mas com enorme alcance e rapidez através do uso massivo de grupos de Whatsapp. O aplicativo era essencial para a comunicação entre um grupo que está sempre em movimento e espalhado por todo o país. O resultado dessa conta é previsível: homens motorizados, antipetistas, contra impostos, contra sindicatos, contra partidos, organizados por whatsapp… não demorou muito para que movimentos ultra-conservadores tomassem conta do movimento e a categoria abraçasse com entusiasmo o nome de Jair Bolsonaro para as eleições presidenciais que ocorreriam meses depois.

Assim, os mesmos grupos de zap que em maio serviram à articulação da greve naturalmente se transformaram em trincheiras da campanha eleitoral de Bolsonaro, fartamente apoiada nas fake news antipetistas.

3 anos depois, com o preço dos combustíveis subindo em níveis históricos, a pauta que foi o estopim da greve da manifestação de 2018 não tem mais força para engajar a classe. As tentativas de reeditar o movimento para que os preços se reduzissem fracassaram ano a ano. Medidas paliativas como a criação do "auxílio-diesel" já são suficientes para desmobilizar a categoria para qualquer confronto direto com o governo de Jair Bolsonaro.

Mais do que isso, em setembro de 2021 os caminhoneiros decidiram fazer uma nova greve, desta vez em apoio às pautas antidemocráticas do Bolsonarismo, como o fechamento do Supremo Tribunal Federal. Clamam por uma intervenção militar, mas que dependesse da qualidade dos tanques do nosso exército duraria bem pouco.

Não há mais dúvidas. Em 3 anos, o movimento dos caminhoneiros e o bolsonarismo se tornaram uma coisa só.

2º ATO — A classe média que Acelera

“Preso no trânsito. Quando será que a nova classe média vai começar a devolver os automóveis às concessionárias?”

O escritor de novelas Aguinaldo Silva escreveu esse tuíte infeliz em outubro de 2015, quando o antipetismo ganhava força para desferir o golpe que derrubaria a presidenta reeleita Dilma Rousseff no ano seguinte. “A nova classe média” citada pelo novelista surgiu no governo Lula, quando mais de 40 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza e passaram (que horror) a consumir. O fato de uma grande massa de trabalhadores antes marginalizada ascender a um nível básico de dignidade e inclusão econômica os fez ocuparem espaços historicamente reservados unicamente à velha classe média branca. Lula, sindicalista forjado entre as fábricas de automóveis do ABC paulista, não viu problemas nas montadoras somarem incentivos fiscais e venderem carros como nunca, para a felicidade geral da nação.

O problema do automóvel e sua necessidade enorme de ocupar espaço faz com que a vantagem que uma pessoa tem ao possuir um automóvel desapareça quando muitas pessoas o utilizam ao mesmo tempo. Como resultado óbvio, os engarrafamentos que eram restritos ao rush das grandes cidades ganharam até mesmo o asfalto de cidades menores. Ato contínuo, os engarrafamentos geram demanda por novas obras rodoviárias de alto custo e desidratam a pressão por estruturas de transporte popular, cujo uso é relegado ao proletariado sem capacidade de pressão.

Em famoso texto, a socialite Danuza Leão reclamava da possibilidade de encontrar seu porteiro em Nova Iorque, o que estava fazendo com que viajar perdesse a graça. Era o tempo em que “os aeroportos pareciam rodoviárias”. A mobilidade física de cidadãos de segunda classe para espaços de convivência pequena burguesia causaou em Danuza um desconforto que acabou por desnudar seus piores preconceitos.

Mas ocupar o trânsito, aí já foi demais. Ver uma massa de trabalhadores ganhando condições de financiar automóveis próprios, abandonando o desconforto dos ônibus lotados (que são lotados justamente para garantir o maior lucro das empresas familiares que dominam o setor no país) e ocupando o espaço público asfaltado e reservado aos cidadãos de bem é um escárnio inadmissível.

A ebulição do ódio de classe no espaço da mobilidade ganhou forma durante a gestão do prefeito Fernando Haddad em São Paulo. Após a turbulência das manifestações de junho de 2013 — e que em seguida tomaram o país, cuja faísca inicial foi a insatisfação por um aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus, o alcaide petista dobrou a aposta ao investir em novos modelos de ocupação do viário. A implantação massiva de corredores de ônibus e de ciclovias, além de medidas de acalmamento de tráfego consolidadas no mundo desenvolvido como a redução das velocidades máximas das grandes avenidas foram o gatilho para uma reação visceral da classe média.

Mesmo vendo os índices de congestionamento diminuírem e a quantidade de mortes no trânsito cair vertiginosamente, a elite jamais aceitou tamanha inversão histórica de prioridades. As críticas diárias às ciclofaixas e corredores, por vezes com fake news gritantes, ganhavam capas de revistas, e eram repetidas diariamente por comentaristas políticos de farto espaço na grande mídia como Marco Antonio Villa e Reinaldo Azevedo. Grupos de extrema-direita recém formados como o MBL também faziam questão de contribuir para o apedrejamento midiático de Haddad, replicando memes como o do Prefeito Suvinil, reforçando a ideia de que investir em ônibus e ciclovias era desperdício, e procurando desesperadamente por indícios de corrupção em obras que custaram uma porcentagem mínima de qualquer intervenção rodoviarista. Apesar das fartas evidências históricas de corrupção nas grandes obras rodoviárias, desde as loucuras da ditadura militar aos rodoanéis tucanos, era preciso criar o fato de que a construção de ciclovias eram intervenções criminosas per se, como mais um elemento do inerente desvio moral dos petistas.

O ataque focado na política de mobilidade de Fernando Haddad, incompreendida por muitos até mesmo em suas trincheiras, pavimentou o caminho da eleição de João Dória Jr., um empresário mauricinho com larga experiência em marketing televisivo. Sua ascensão eleitoral meteórica, obtida no vácuo da antipolítica e do antipetismo que era moeda corrente em 2018, teve como mote o slogan “Acelera São Paulo!”, retirado diretamente do bordão “Acelera Ayrton!” gritado por Galvão Bueno em suas narrações de Fórmula 1. Antagonizando diretamente com a política inclusiva petista, Dória ganhou votos com rapidez prometendo reverter o tudo o que foi feito na mobilidade, especialmente as ciclovias e a redução de velocidades, devolvendo à elite branca a vantagem de uso prioritário do espaço público.

Não por acaso, sua primeira medida como prefeito eleito foi anunciar o retorno das velocidades das pistas expressas das Marginais Pinheiros e Tietê para 90km/h. A redução de velocidades nas principais vias de trânsito rápido da cidade, que vigorou por pouco mais de 1 ano, foi responsável por uma redução inédita dos índices de mortalidade, chegando ao número mais baixo registrado na história. Mas quem se importa com vidas humanas quando a prioridade é garantir a vantagem daqueles que dirigem carros e expulsar cidadãos de segunda classe do espaço público? A medida chegou a ser judicializada pela Associação de Ciclistas de São Paulo, a Ciclocidade, o que foi motivo para ataques de ódio coordenados pelo MBL. Dória acabou vencendo a causa, e os números de mortos nessas vias voltaram a crescer nos 4 anos seguintes. Hoje não há qualquer debate público sobre o tema.

3º ATO — O tiozão de óculos escuros dentro do carro

A relação da classe média bolsonarista com o carro também se observa em detalhes. Já reparou que todo bolsonarista usa em suas redes sociais uma foto de óculos escuros tirada dentro de um carro?

Os vídeos de desabafos de bolsonaristas gravados dentro de um carro são um clássico do humor da direita histérica. A facilidade de colocar o celular no painel do veículo, gravar o que quiser e compartilhar imediatamente no whatsapp ajudou em muito a disseminação de rompantes pessoais que ganhavam os grupo de família.

Logo no início de seu mandato, Bolsonaro sinalizou que governaria a favor da imprudência motorizada. Começou mandando desligar os radares eletrônicos das estradas, para garantir que a sagrada vantagem dos motoristas não fosse cerceada pelo rigor da lei. As vidas que perdemos no trânsito em sua maioria não são dos motoristas de carro, mas de pedestres, ciclistas e motociclistas que não tem a vantagem de ter uma carcaça metálica de proteção, nem tampouco airbags frontais e laterais. Na ótica hegemônica da direita, os carros acabam por ter uma função muito parecida com a das armas . A posse destes produtos imediatamente habilitam a dominação de classe através da ameaça à vida dos cidadãos vulneráveis. Não é por acaso que ambos exercem particular fascínio no imaginário masculino, sendo frequentemente utilizados de forma tóxica e imprudente.

Os esforços de Jair Bolsonaro para flexibilizar tanto o porte de arma quanto a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação apontavam para o mesmo alvo: a licença para matar. Ainda nos primeiros meses de seu mandato, Bolsonaro foi pessoalmente ao Congresso enviar um projeto de revisão do Código de Trânsito Brasileiro, atendendo a antigas demandas dos caminhoneiros, como o aumento do tempo de validade das CNHs, a diminuição do rigor dos exames médicos e toxicológicos e o aumento do número de pontos de multas necessários para a suspensão do direito de dirigir. Em suas lives, ele afirmou que seu desejo mesmo era o de eliminar as auto-escolas, ou seja, transformar a formação de condutores em uma várzea completa, legalizando a longa cultura brasileira de ensino informal de adolescentes em cidades do interior. Coube ao líder do Movimento Brasil Livre, o deputado Kim Kataguiri, apresentar projeto de lei para que futuramente esse desejo seja atendido. Apesar de suavizada pelas emendas dos congressistas, a revisão foi aprovada, sancionada e entrou em vigor em abril de 2021. O alívio dos cidadãos de bem, que agora podem cometer mais delitos no trânsito sem punição se opõe ao desespero de dezenas de milhares de vítimas anuais de sinistros fatais de trânsito — que sequer terão direito ao seguro obrigatório, o DPVAT, cancelado pelo presidente em 2019 após uma briga com Antonio Bivar, presidente de seu antigo partido e que significou um corte de verbas bilionário ao Sistema Único de Saúde, que hoje atende mais vítimas de trânsito do que antes da pandemia

A atenção dada por Bolsonaro aos motoristas de carro chegou ao ponto dele “implodir” a direção do Inmetro, órgão técnico de normatização de medidas, somente por pressão de taxistas e caminhoneiros descontentes com a regulamentação rígida de tacógrafos e taxímetros. A reclamação chegou a ele através de grupos de WhatsApp e o fez demitir toda a diretoria da autarquia, que passou a ser comandada por mais um militar, o Coronel Marcos Heleno Guerson Júnior, que confirmou o atendimento à demanda dos taxistas. Ainda assim, motoristas seguem pressionando o presidente por detalhes como a exigência de um cabo específico nos táxis, o que faz Bolsonaro atendê-lo imediatamente.

Um ano depois, esse mesmo órgão foi novamente jogado na fogueira pelo presidente. Pressionado pela carrocracia a dar explicações pelo valor exorbitante da gasolina, sua busca constante de desculpas para os problemas de sua gestão o fez acusar as pessoas que ele mesmo indicou de serem lenientes com a fiscalização de bombas nos postos. O Coronel enviou documento avisando que falta dinheiro para atender essa exigência.

Como é bom ser motorista no governo Bolsonaro…

4º ATO — Os motoqueiros sem partido e os motoboys sem sindicato

No início de 2021, quando a pandemia de Covid-19 chegava a picos de mais de 4000 mortes diárias e sua popularidade despencava vertiginosamente, Jair Bolsonaro descobriu uma maneira bem vantajosa de promover aglomerações junto a base eleitoral usando dinheiro público e minimizando o escrutínio da população esclarecida que mostrava a irresponsabilidade de sua gestão da crise sanitária, deliberadamente guiada pelo conceito genocida da imunidade de rebanho. Utilizando como pretexto eventos de inauguração de obras rodoviárias como pontes e até pinguelas, Bolsonaro começou a promover suas Motociatas, breves passeios de moto de fim de semana junto a seus apoiadores. Ele já tinha mostrado seu gosto pelas motocas em outros rápidos rolês de domingo, inclusive cometendo infrações em plena luz do dia. Mas a ocupação massiva das estradas por homens grisalhos em suas Harley Davidsons barulhentas, jaquetas de couro, óculos Ray Ban e barrigas de chope dava a ele a imagem de líder de uma gang em uma cruzada. Curiosamente, Benito Mussolini já tinha usado esse expediente.

Nada mais representativo do cidadão reacionário proto-fascista do que velhos Easy Riders, saudosos de um envelhecido rock n’roll que há muito não contesta absolutamente nada. Tais motos, de valor inalcançável até mesmo para a classe média, associam o cidadão de bem ao ethos machista de adoração pela velocidade nas estradas, à escrotidão movida a álcool e cigarros, e que encontraram em Bolsonaro uma simbiose perfeita.

A cada semana, Bolsonaro ia a uma nova capital e guiava sua moto como um cavaleiro de Marlboro , tocando o gado pelas paisagens afora.

Uma pausa nessa viagem: é preciso aqui fazermos um recorte de classe. Não vamos confundir os motoqueiros dos Moto Clubes com os Motoboys, o proletariado da motocicleta.

Mesmo fazendo parte da classe média baixa, os motoboys também são majoritariamente reacionários. Em sua esmagadora maioria homens jovens da periferia, os motofretistas em maioria assumem o conservadorismo simbólico que o acesso vantajoso à motorização lhes proporciona. A motocicleta, veículo motorizado de baixo custo, é a porta de acesso às vantagens que sempre foram negadas à população que a carrocracia expulsou para as franjas das cidades. A moto é o sonho possível do jovem periférico. As naves, foguetes e robozões dos moleques do “grau”, são o bilhete de entrada na sociedade de consumo, da presença nos bailes, dos encontros amorosos, de oportunidades de trabalho, de acesso ao centro, de exercício do direito à cidade.

Nos últimos anos, a categoria modificou-se profundamente com a chegada dos aplicativos de entrega como iFood, Rappi e Uber Eats. Através de plataformas que conectam o trabalhador a pedidos de restaurantes, lanchonetes e mercados, remunerando por entrega finalizada, os "apps" tomaram conta do mercado de delivery. Trabalhadores que antes eram contratados diretamente pelas empresas via CLT passaram a trabalhar como autônomos, com custos e riscos arcados pelo trabalhador e absolutamente nenhum direito trabalhista assegurado, em configuração próxima à do trabalho dos caminhoneiros. Deixaram de ser vistos como trabalhadores para serem chamados por termos como “colaboradores”, “parceiros” e “empreendedores individuais”, vendendo com sucesso a ideia falaciosa que os aplicativos são plataformas de trabalho empresarial e não de subordinação empregatícia. Assim, sem patrões, sem salário pré-definido, sem contrato de trabalho, grande parte delas deixou de se enxergar como proletários, mas sim como pequenos empresários em ascensão. Paradoxalmente, tais mecanismos de vigilância e controle digital acabam por levá-los cumprir jornadas ainda mais exaustivas por cada vez menos dinheiro. O fato de serem "Empresários de Si Mesmos" nunca os livraram do preconceito de classe durante o trabalho.

“Meus manos me odeiam”, afirmou Paulo Galo, motoboy que se notabilizou ao denunciar as condições absurdas de trabalho impostas pelos aplicativos de entregas. Ao conversar com seus colegas motociclistas sobre o tema, ele percebeu que a consciência de classe era mínima.

“Comecei a ouvir frases como: ‘O aplicativo está ruim pra você? Desliga e vai pra Cuba.’ “Alguns acham que sou um ator contratado pelo [jornal] The Intercept para disseminar ideias comunistas entre os motoboys, outros que eu sou financiado pelo PT. Eles criam muita lenda”

"Motoboy quebra, rapaziada!"

Paulo só conseguiu interlocução para montar o grupo dos “Entregadores Antifascistas” quando procurou a porção desmotorizada da classe, os ciclistas. Trabalhadores de menor remuneração na categoria, na maioria das vezes inferior a um salário mínimo, foram os bicicleteiros que melhor compreenderam o tamanho da exploração desse sistema.

Os sindicatos de motofretistas são historicamente reacionários e "pelegos", com notória ligação centrais sindicais distantes da esquerda como a UGT, ligada ao deputado de direita Valdevan Noventa. Entre as reivindicações puxadas por eles, já vimos pautas anacrônicas e muito próximas à da classe média-alta motorizada, como o fim da “indústria das multas”, a não redução das velocidades e a oposição à criação de ciclovias, reivindicações que interferem negativamente na segurança que eles dizem defender. Nada diferente do que a classe média carrocrata pensa por trás de seus óculos escuros.

Nas eleições de 2020, o alinhamento dos motoboys com a direita ficou claríssimo: dos 1317 motoboys que lançaram candidaturas a vereador no país, mais de 80% o fizeram por partidos de centro e direita, com predominância a agremiações da base bolsonarista, como PSL e Republicanos.

Os aplicativos digitalizaram a exploração do trabalhador, ao mesmo tempo em que incorporaram princípios fortemente ligados ao liberalismo, como a meritocracia individual, a rejeição ao estado e ao pagamento de impostos, a demonização da organização sindical e o anti-esquerdismo. Assim, mesmo quando os motoboys passaram a se organizar de forma independente para lutar por melhor remuneração, essa luta ainda foi formatada pela antipolítica e pela aceitação do modelo de trabalho uberizado.

A primeira grande paralisação organizada pelos trabalhadores de aplicativo, em junho de 2020, foi chamada de “Breque dos Apps”, pois o nome greve não era bem visto entre eles. O movimento, em parte inspirado na greve dos caminhoneiros de 2018, rejeitou a liderança direta dos sindicatos e a aproximação com setores da esquerda. Elencou reivindicações restritas a questões práticas de remuneração (melhores taxas) e de garantia de trabalho (fim dos bloqueios), de alguma forma remetendo ao movimento ainda embrionário das trade-unions reformistas do século 18. Mesmo a reconquista de direitos históricos da classe trabalhadora como férias remuneradas, licenças médicas remuneradas, descanso remunerado e registro profissional não fizeram parte das reivindicações do dia. Repetindo o discurso do patronato, a CLT é rechaçada pela maioria. O resultado é que o movimento, apesar de ter tido boa adesão e grande impacto de mídia, não resultou em rigorosamente nenhuma melhoria concreta para a categoria. Hoje, mais de 11 milhões de brasileiros tem sua renda dependente do trabalho em aplicativos, tornando essas empresas nos maiores “sub-empregadores” do país, totalmente à margem da legislação trabalhista e das políticas públicas de assistência.

Enquanto isso, os homens mais ricos do mundo, como Jeff Bezzos, dono da Amazon e ávido precarizador dos serviços de entrega, nem quer mais andar de carro. Com tantos milionários com carros de luxo no mundo, para se sobressair na multidão um bilionário já precisa ter uma nave espacial. Outro trilhardário que também se aventura pelo neoliberalismo aeroespacial é, Elon Musk, empresário superstar, dono de uma montadora de automóveis elétricos e de uma empresa de turismo espacial, e que coleciona declarações conservadoras, que vão desde o apoio a golpes de estado na Bolívia ao negacionismo sobre a Covid-19.

5º ATO — O vício tabagista da Fórmula 1 e a Meritocracia de Verde-Amarelo

No dia 7 de setembro de 2021, enquanto os caminhoneiros bolsonaristas bloqueavam estradas e defensores da volta da ditadura militar se manifestavam nas capitais em bom número, o Presidente da República abria as comemorações da Independência do Brasil desfilando em um velho carro modelo Rolls-Royce. O detalhe é que na direção do veículo estava o tricampeão mundial de Fórmula 1, Nelson Piquet.

Já fazia algum tempo que Piquet, pessoa conhecida pelo seu temperamento explosivo e por declarações machistas, já tinha se revelado um bolsonarista entusiasmado.

O automobilista passou a ser figurinha constante em eventos com o presidente, e seu notório temperamento explosivo o fez atirar até contra a Rede Globo, a emissora que transmitiu seus momentos de glória nas pistas de corrida.

Piquet não é o único ídolo do automobilismo que abraçou o Bolsonarismo. Emerson Fittipaldi, bicampeão da Fórmula 1 nos anos 70 e campeão da Fórmula Indy nos anos 80, também é bolsonarista de primeira hora, a ponto de visitar o então candidato no hospital durante o seu período de recuperação da famosa facada sofrida em Juiz de Fora.

Como bom cidadão de bem, Fittipaldi tem seríssimos problemas com a justiça. A péssima gestão de seus negócios pessoais gerou nada menos do que 145 processos judiciais por calotes diversos, além de uma dívida que ultrapassa os 50 milhões e acusações de ocultação de patrimônio. Para ele, seu processo falimentar é culpa do PT.

“Acreditei num Brasilzinho anunciado pelo PT. Investi muito na usina de etanol, que era o plano do Lula e da Dilma, mas eles acabaram dando prioridade para a gasolina da Petrobras e deixaram o programa de etanol de fora.”

Apesar de abraçar o discurso moralista, Emerson tem largo histórico de procurar vantagens com dinheiro público. Em 1982 reuniu-se com o então ditador militar João Batista Figueiredo para conseguir do governo Brasileiro um dinheiro para evitar a falência da Copersucar, sua equipe de Fórmula 1 — sem sucesso.

Já em 2012, recebeu 8 milhões da Prefeitura de São Paulo para produzir um evento automobilístico, mas deu um cano milionário a seus fornecedores.

É claro que seu estilo não seria diferente no governo Bolsonaro. No início de 2021, Fittipaldi articulou um encontro oficial do presidente com seu neto, Pietro, um jovem aspirante a seguir o legado familiar no automobilismo. Esse encontro selou a autorização de uma renúncia fiscal de quase 10 milhões de impostos para que Pietro e seu outro neto, Enzo, pudessem buscar um lugar no grid de largada da F1. Em setembro de 2021, seus débitos lhe causaram novo constrangimento: a penhora de 14 carros antigos de sua coleção particular para pagamento de credores.

Os anos 80 e a primeira metade dos anos 90 marcaram a era de ouro do automobilismo brasileiro, quando Nelson Piquet e Ayrton Senna venceram 6 campeonatos de Fórmula 1 em menos de 15 anos. Acompanhar as vitórias constantes da dupla transformou o “esporte” em diversão obrigatória dos domingos da família brasileira. As aspas aqui colocadas têm uma razão: o automobilismo não é uma competição justa entre seres humanos em igualdade de condições. É somente um espetáculo de entretenimento de luxo de uma elite riquíssima e abertamente machista , onde o poder das máquinas, desenvolvidas a custo milionário pelas montadoras, é o fator determinante entre a vitória e a derrota. A equipe que tem mais recursos financeiros tem a vantagem de construir um carro mais rápido e se habilita a vencer as corridas — o que não é isso se não uma ótima metáfora da meritocracia neoliberal?

Nada como sintonizar a TV no domingo de manhã e ver uma competição de motoristas imprudentes arriscando suas vidas para dar repetidas voltas em uma pista antes dos outros. Para a alegria de Gérson, a indústria do tabagismo era a principal anunciante desses eventos. Passamos anos acompanhando gigantescos maços de Marlboro, Gitanes, Rothmans, Camel e John Player Special dando voltas a 300 quilômetros por hora aos olhos da realeza européia nas ruas do Principado de Mônaco. A publicidade tabagista foi proibida em meados dos anos 2000 e mesmo depois disso a Marlboro tentou veicular uma publicidade subliminar em uma Ferrari. Mas em 2021 o vício falou mais alto e o setor voltou a anunciar na categoria através de empresas de fachada. Mesmo proibida, a Fórmula 1 segue fumando escondido!

É interessante pontuar que ao fim da era de superexposição dessas marcas de cigarro pelos ídolos do automobilismo, o Brasil iniciou um longo e bem sucedido trabalho de redução do tabagismo no país — proibindo a sua publicidade, o patrocínio de eventos, o consumo em locais fechados e incluindo de imagens de desincentivo nas embalagens.

Hoje, com a extrema direita no poder, esse não é assunto estranho ao Bolsonarismo, que tem como grande guru Olavo de Carvalho, um fumante inveterado que afirma que "cigarro não faz mal" mesmo com a saúde pulmonar comprometida. Outra figura central na direita, o ex-juiz Sérgio Moro, no seu tempo como Ministro da Justiça de Bolsonaro recebeu representantes da indústria do tabaco e defendeu a redução dos impostos desses produtos. Hoje, uma das novas estratégias da indústria para recuperar terreno no país é justamente fazer ciclistas e motoboys entregarem cigarros ilegalmente nos domicílios através dos aplicativos de entrega.

Mas, voltando aos carros:

O que fez um país pobre como o Brasil se tornar uma superpotência de um evento tão elitizado como o automobilismo? Um dirigente importante da Fórmula 1 afirmou que o nosso trânsito caótico era uma verdadeira fábrica de pilotos de corrida. Mas não vamos esquecer que o Brasil, com sua desigualdade gritante, sempre foi uma potência em esportes de elite. Sempre fomos ótimos em modalidades nobres como iatismo e hipismo, onde coincidentemente o ser humano não depende somente de si para se deslocar.

Quis o destino que o maior ídolo do automobilismo brasileiro morresse num acidente de trânsito, outra grande especialidade nossa, que tira a vida de 1 brasileiro a cada 15 minutos. Foi justamente em um desses domingos, em rede nacional, que vimos o sinistro de automóvel mais traumático da nossa história. Daquela vez, a vítima era naquele momento a maior celebridade do país, e nem isso foi suficiente para a sociedade ter consciência real da magnitude dos números de guerra do trânsito brasileiro. Na realidade das nossas ruas, as vidas são perdidas não por “acidente”, mas como resultado de todo o projeto rodoviarista, que para garantir a vantagem e a velocidade, coloca em risco a vida da massa de pedestres, ciclistas e motociclistas vulneráveis no espaço público.

Ayrton Senna talvez tenha sido o primeiro grande “coxinha” do Brasil. Cara de bom moço, de pele clara, traços suaves, fala mansa, exibia notável criativade em levar vantagem seu ofício — pilotar carros no limite da velocidade. Suas entrevistas sempre tinham mensagens motivacionais de superação que hoje viraram mantra entre os coaches de crescimento profissional.

Sua ascensão ao estrelato coincidiu com um país que se reconstituía como democracia e vislumbrava um futuro de inserção global. Um país que tinha que dar certo. Com um capacete pintado com as cores do Brasil, a cada vitória um entusiasmado narrador Galvão Bueno gritava “Ayrton! Ayrton! Ayrton Senna do Brasil!” e ouvíamos o “Tema da vitória” enquanto ele chorava com a bandeira do Brasil em punho. E assim um garoto branco, rico, privilegiado, bom moço, bon vivant, namorador de modelos loiras, machista reservado, pilotando imprudentemente um maço de cigarros motorizado, representava como ninguém a meritocracia da glória individual da classe média. É claro que toda aquela overdose de nacionalismo verde e amarelo se resumia ao marketing — negócios à parte. O dinheiro que ele recebia de sua equipe era convenientemente depositado em uma empresa de fachada nas Bahamas, conhecido paraíso fiscal, enquanto ele mesmo era oficialmente morador do Principado de Mônaco, outra nação que sempre ofereceu enormes vantagens fiscais a seus milionários residentes. Ayrton Senna era “O sucesso!”

Nos roncos dos motores da Fórmula 1 e na publicidade tabagista estava a base estética para o pachequismo neoliberal coroado em 1989 com a vitória de Fernando Collor de Mello, o primeiro Presidente da República eleito após o fim da ditadura militar. Em uma eleição cheia de figurões da velha política, sobressaiu-se um outsider. Fernando era um jovem galã de família tradicional, que gabava-se de seu histórico de atleta, concorria por um partido inexpressivo, prometia renovação política e o fim da corrupção, defendia privatizações, o fim do "toma-lá-dá-cá" no governo e a diminuição do estado contra a ameaça vermelha representada por Lula e o PT. Na prática, a mesma plataforma política que elegeria Jair Bolsonaro quase 30 anos depois.

Em sua curta passagem como chefe de executivo, interrompida (quem diria) por um escândalo de corrupção que envolvia a compra de um Fiat Elba, Collor afirmou que os carros feitos no ABC paulista eram “carroças” e gabou-se de ter aberto às exportações de veículos importados. O próprio Ayrton Senna embarcou na onda e abriu uma importadora de veículos Audi no Brasil.

É difícil prever em que lugar estaria Ayrton Senna hoje. Seu legado hoje está nas mãos de sua irmã, Viviane Senna, que conduz projetos filantrópicos em seu nome. Viviane é bolsonarista declarada, chegou a ser cotada para um ministério no atual governo e coleciona declarações alinhadas com o negacionismo bolsonarista.

A antipatia bolsonarista de Piquet e o bom mocismo verde e amarelo de Senna sempre pareceram antagônicos, mas sempre transitaram pelo mesmo lado da pista: na faixa rápida da direita. E é nela que também estão os caminhoneiros, os motociclistas, os motoboys, os taxistas, os homens de óculos escuros e o motorista da Marginal Pinheiros: cada um na sua, mas com algo em comum.

6º (E ÚLTIMO) ATO — Jet Skis, Hidroaviões e a exploração motorizada das águas

Engana-se que a devastação provocada pelo transporte individual motorizado esteja restrito às terras asfaltadas. Fernando Collor, Ayrton Senna e Jair Bolsonaro são tão parecidos que até têm um hobby em comum: o jet ski, cujo nome técnico é moto aquática. Jet Ski, na verdade, é uma marca registrada da Kawasaki, fabricante japonesa de motos. Esse trambolho, pra lá de barulhento e espalhafatoso, cujo valor de compra que pode ultrapassar os 100 mil reais, tem uso nulo para a mobilidade e é utilizada somente para a diversão de jovens burgueses em balneáreos. Sua popularização no Brasil se deu nos anos 80, no primeiro grande boom dos chamados "esportes radicais", como surf, kite surf, skate, escalada, asa delta, mountain bike, entre outros, sempre muito bem mostrada ao som de hard rock nos comerciais dos cigarros Hollywood.

Como toda diversão motorizada, o Jet Ski é um brinquedo perigoso. Em 2012, após um grande aumento de mortes causadas por esse veículo, incluindo a morte trágica de crianças, a marinha reforçou as exigências para a habilitação. A própria Kawasaki, dona da marca, chegou a emitir um comunicado repudiando o uso do nome Jet Ski em tantas notícias negativas relacionadas a acidentes com "motos aquáticas" que não eram de sua fabricação. Mas era tarde, o nome ficou.

O presidente Fernando Collor foi talvez o maior garoto propaganda dos jet skis. Em seu curto período como chefe de estado nos anos 90, ele fazia questão de posar semanalmente para as câmeras acelerando no lago Paranoá em suas folgas de domingo, utilizando de seu tempo de lazer cultivar sua imagem pessoal de bon vivant da geração saúde.

Ao mesmo tempo, quando não estava competindo, o também jovem Ayrton Senna fazia o mesmo em Angra dos Reis, conhecido balneário do jet set carioca. Em junho de 1991, o piloto chegou a se envolver em um acidente com esse veículo, caindo na água e sendo atingido na cabeça pelo jet ski de um amigo, sobrevivendo por sorte.

“Quem já andou de Jet Ski sabe a maravilha que é”

30 anos depois, Jair Bolsonaro recuperou o amor presidencial por essa máquina, a ponto de usá-las para promover uma versão aquática das suas motociatas. Não contente em acelerar nas águas, Bolsonaro decidiu que seu governo precisa ajudar quem quer passear de jet ski. Apesar de serem veículos automotores, os Jet Skis são isentos de IPVA, assim como lanchas, barcos, jatinhos, iates e helicópteros, veículos de uso exclusivo de endinheirados cuja tributação não faria nenhuma diferença em suas contas bancárias. Calcula-se que essa simples cobrança simples poderia gerar mais de 4 bilhões de reais de receitas anuais ao governo. Mas Bolsonaro decidiu que quer reduzir os impostos de compra e facilitar novamente a habilitação dessas máquinas, tal qual fez com a habilitação de carros.

A obsessão de Bolsonaro por motores e pela exploração aquática chegou ao ponto dele ordenar ao Ministério da Infraestrutura a desregulamentação de uso de hidroaviões, supostamente para uso em vôos comerciais para pesca turística na região amazônica (A pesca em áreas de preservação ambiental é também outro grande hobby do líder). Nesse pacote de medidas, chamada de Programa Vôo Simples, será facilitada a habilitação de novos aeródromos na Amazônia Legal, além de desonerações para operadores de pequeno porte entrarem no mercado brasileiro.

"A Amazônia é uma grande pista de pouso pra hidroavião. Já pensou você com seu aviãozinho, com seu amigo aí (quem tem recurso, obviamente), levar seu hidroavião pra região amazônica. E vai pescar, você pousa e pesca sem problema nenhum! (…) Até pra mostrar que a Amazônia não pega fogo!"

Assim, da mesma forma que a Rodovia Transamazônica, obra da ditadura militar que foi um dos grandes pilares da ocupação predatória da floresta a partir dos anos 70, Bolsonaro acredita que é possível também explorar os rios das nossas reservas ambiental de forma hostil, através da pesca esportiva e do turismo de alta classe. É claro que ele não tem a menor vontade de preservar a diversidade aquática da região, apesar de cientistas já terem demonstrado que isso é essencial.

O Greenpeace calcula que 90% do desmatamento na Amazônia ocorre em um raio de 100 quilômetros das estradas. Não por acaso que o governo Bolsonaro não tem medido esforços para concluir o reasfaltamento da BR-319, velha estrada que liga Porto Velho-RO a Manaus-AM. Chamada de "Nova Transamazônica", a rodovia, que era de terra em mais de metade de seu percurso, deverá criar um novo arco de desmatamento na região, com avanço da grilagem e da invasão de terras indígenas. Mas Bolsonaro não se contenta com a destruição rodoviarista. Quer colonizar as águas pelos motores.

Volta final

Apesar desse texto ter indo muito longe, não pretendo aqui chegar a conclusões apressadas. Esse percurso apenas conecta alguns fatos históricos que curiosamente se entrelaçam. Mas quem chegou até aqui conseguiu ver que a força aparentemente inatingível dos motores na sociedade não deve ser ignorada. É uma resultante de uma sociedade fundada na profunda desigualdade entre as pessoas e mais um dos incontáveis mecanismos de controle de corpos em nossas vidas.

Apenas ouso afirmar que hoje o transporte motorizado não é só consequência, mas também criadora e aglutinadora de um comportamento reacionário em massa. O que automóveis, motos, caminhões, foguetes, carros de fórmula 1 nada mais fazem do que materializar os privilégios de classe, as vantagens dos donos do poder econômico. Os custos de tudo isso, nós pagamos.

Agradecimento aos amigos Arnaldo Machado, Guilherme Moraes e Daniel Valença pela paciência em ler, sugerir e debater as versões preliminares desse texto

Lista de links externos inseridos no texto:

  1. Cigarros Vila Rica (Lei de Gerson) — 1976 https://youtu.be/fh9u_amafFI
    2. O Mundo Sem Carros — Roberto Andrés https://piseagrama.org/o-mundo-sem-carros/
    3. Por isso corro demais — Roberto Carlos https://youtu.be/Vw89YTUpcKc
    4. Velozes & Furiosos 9 — Trailer Oficial (Universal Pictures) https://youtu.be/NnDGWyfP7q4
    5. Streetsblog — Americas Most Toxic Car Ads https://usa.streetsblog.org/2021/09/27/americas-most-toxic-car-ads-autonomous-atrocities/
    6. Rodoanel deve ser concluído com custo de R$ 26 bilhões. https://noticias.r7.com/sao-paulo/rodoanel-deve-ser-concluido-com-custo-de-r-26-bilhoes-06042020
    7. Governo de MG vai usar parte de verba da Vale em Rodoanel no entorno de BH https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/02/04/interna_gerais,1235083/governo-de-mg-vai-usar-parte-de-verba-da-vale-em-rodoanel-no-entorno-de-bh.shtml
    8. Greve dos caminhoneiros: a cronologia dos 10 dias que pararam o Brasil https://economia.uol.com.br/noticias/bbc/2018/05/30/greve-dos-caminhoneiros-a-cronologia-dos-10-dias-que-pararam-o-brasil.htm
    9. Ações do governo Temer estarão baseadas no documento Uma Ponte para o Futuro https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-05/acoes-do-governo-temer-estarao-baseadas-no-documento-uma-ponte-para-o
    10. Governo anuncia isenção de IPI sobre carros 1.0 https://g1.globo.com/Noticias/Carros/0,,MUL919813-9658,00-GOVERNO+ANUNCIA+ISENCAO+DE+IPI+SOBRE+CARROS.html
    11. Ditadura militar enriqueceu grandes empreiteiras https://super.abril.com.br/historia/ditadura-militar-enriqueceu-grandes-empreiteiras/
    12. Paralisação de caminhoneiros é um misto de greve e locaute, diz sociólogo do trabalho https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44256413
    13. Protesto de caminhoneiros é contra Dilma, diz líder; sindicatos não apoiam https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/11/09/protesto-de-caminhoneiros-e-contra-dilma-diz-lider-sindicatos-nao-apoiam.htm
    14. Grupos pró-intervenção militar tentam influenciar rumo de greve dos caminhoneiros https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44244583
    15. Greve não é mais de caminhoneiro, mas de quem quer derrubar o governo, diz Abcam https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/05/greve-nao-e-mais-de-caminhoneiro-mas-de-quem-quer-derrubar-o-governo-diz-abcam.shtml?utm_campaign=anexo&utm_source=anexo
    16. Em vídeo, Bolsonaro apoia greve de caminhoneiros contra alta do diesel https://exame.com/brasil/em-video-bolsonaro-apoia-greve-de-caminhoneiros-contra-alta-do-diesel/
    17. Caminhoneiros bloqueiam rodovias em apoio a Bolsonaro https://globoplay.globo.com/v/9842442/?utm_source=twitter&utm_medium=organico&utm_campaign=h1&utm_content=video
    18. Conheça o tanque em desfile de Bolsonaro que viralizou na internet por fumaça preta https://olhardigital.com.br/2021/08/10/carros-e-tecnologia/tanque-desfile-bolsonaro-fumaca-preta/
    19. No Rio, Lula diz que pobres também devem ter carros http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1521008-5601,00-NO+RIO+LULA+DIZ+QUE+POBRES+TAMBEM+DEVEM+TER+CARROS.html
    20. “O perigo de dar de cara com o porteiro do próprio prédio” Danuza Leão pede desculpas a porteiros e leitores https://www.geledes.org.br/o-perigo-de-dar-de-cara-com-o-porteiro-do-proprio-predio-danuza-leao-pede-desculpas-a-porteiros-e-leitores/
    21. Trânsito em SP diminui 16,6% à tarde e 6,6% pela manhã em 2015, diz CET http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/04/transito-em-sp-diminui-166-tarde-e-66-pela-manha-em-2015-diz-cet.html
    22. Número de mortes em acidentes cai mais na capital do que no estado http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/10/numero-de-mortes-em-acidentes-cai-mais-na-capital-do-que-no-estado.html
    23. Prefeitura de SP desmente Veja: Ciclovias custaram 1/3 do valor divulgado por revista https://revistaforum.com.br/blogs/rodrigovianna/brodrigovianna-prefeitura-de-sp-desmente-veja-ciclovias-custaram-13-valor-divulgado-por-revista/
    24. Ciclovias ou ciclomortes? / Marco Antonio Villa / Jovem Pan https://www.youtube.com/watch?v=PKtw1GTavPw
    25. Haddad é o Taliban de bicicleta; é o Estado Islâmico sobre duas rodas https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/haddad-e-o-taliban-de-bicicleta-e-o-estado-islamico-sobre-duas-rodas/
    26. Haddad Suvinil https://www.facebook.com/haddadsuvinil/posts/891067087634289
    27. Corrupção na ditadura: 5 histórias envolvendo desvio de dinheiro https://www.dci.com.br/politica/corrupcao-na-ditadura/3365/
    28. Entenda as investigações sobre o Rodoanel https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/03/entenda-as-investigacoes-sobre-o-rodoanel.ghtml
    29. Governador culpa “minoria branca” pela violência em São Paulo https://www.conjur.com.br/2006-mai-18/claudio_lembo_culpa_minoria_branca_violencia
    30. Motos são proibidas de trafegar na Marginal Pinheiros a partir desta segunda-feira https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/20/motos-sao-proibidas-de-trafegar-na-marginal-pinheiros-a-partir-desta-segunda-feira.ghtml
    31. Justiça barra aumento de velocidade nas marginais https://istoe.com.br/justica-barra-aumento-de-velocidade-nas-marginais/
    32. Twitter Daniel Guth https://twitter.com/DanielGuth/status/1435930134587088898
    33. Chegamos ao Supremo, mas a mobilidade ativa perdeu https://www.ciclocidade.org.br/noticias/1105-chegamos-ao-supremo-mas-a-mobilidade-ativa-perdeu
    34. Ativar o modo Augusto Lima para o segundo turno https://www.facebook.com/watch/?ref=search&v=252819642046323&external_log_id=b0aff846-d81b-4edd-8a13-02c1c52a10c4&q=augusto%20lima
    35. Bolsominion ameacador https://www.facebook.com/watch/?v=252606832831424
    36. Bolsonaro manda suspender uso de radares nas rodovias federais https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-08/bolsonaro-manda-suspender-uso-de-radares-nas-rodovias-federais
    37. ‘Arma faz tão mal quanto carro’, diz Eduardo Bolsonaro após tragédia em Suzano https://oglobo.globo.com/brasil/arma-faz-tao-mal-quanto-carro-diz-eduardo-bolsonaro-apos-tragedia-em-suzano-23519540
    39. Governo apresenta proposta de mudança no Código de Trânsito Brasileiro https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-06/governo-apresenta-proposta-de-mudanca-no-codigo-de-transito-brasileiro
    40. Decisão de Bolsonaro de acabar com DPVAT atinge empresa de Luciano Bivar https://veja.abril.com.br/economia/decisao-de-bolsonaro-de-acabar-com-dpvat-atinge-empresa-de-luciano-bivar/
    41. Em plena pandemia, SUS bate recorde de atendimento a vítimas do trânsito e motociclistas são maioria https://www.portaldotransito.com.br/noticias/em-plena-pandemia-sus-bate-recorde-de-atendimento-a-vitimas-do-transito-e-motociclistas-sao-maioria/
    42. Bolsonaro decide ‘implodir’ o Inmetro e anuncia demissão de toda a diretoria do órgão https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/02/22/bolsonaro-decide-implodir-o-inmetro-e-anuncia-demissao-de-toda-a-diretoria-do-orgao.ghtml
    43. Inmetro muda revisão obrigatória de taxímetros e reduz burocracia https://jc.ne10.uol.com.br/brasil/2020/06/5611966-inmetro-muda-revisao-obrigatoria-de-taximetros-e-reduz-burocracia.html
    44. Bolsonaro se irrita com taxista após pergunta sobre portaria do Inmetrohttps://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/09/15/bolsonaro-se-irrita-com-taxista-ao-ser-questionado-por-exigencia-de-cabo.htm?cmpid=copiaecola
    45. Bolsonaro critica fiscalização da gasolina pelo Inmetro https://economia.ig.com.br/2021-02-23/bolsonaro-critica-fiscalizacao-da-gasolina-pelo-inmetro-orgao-responde.html
    46. Não há recurso para fiscalizar combustíveis como quer Bolsonaro, diz Inmetro https://www.poder360.com.br/economia/nao-ha-recurso-para-fiscalizar-combustiveis-como-quer-bolsonaro-diz-inmetro/
    47. Covid-19: Brasil bate recorde com 4.249 mortes registradas em 24 horas https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-04/covid-19-brasil-bate-recorde-com-4249-mortes-registradas-em-24-horas
    48. Relatório sigiloso do TCU diz que governo gastou R$ 1 milhão em três motociatas de Bolsonaro https://blogs.oglobo.globo.com/malu-gaspar/post/governo-gastou-r-1-milhao-em-tres-motociatas-de-bolsonaro.html
    49. Bolsonaro gastou R$ 711 mil para inaugurar ponte de madeira de R$ 255 mil https://www.poder360.com.br/governo/bolsonaro-gastou-r-711-mil-para-inaugurar-ponte-de-madeira-de-r-255-mil/
    50. Compare fotos da “motociata” de Bolsonaro em Florianópolis com as anteriores.https://www.poder360.com.br/governo/compare-fotos-da-motociata-de-bolsonaro-em-florianopolis-com-as-anteriores
    51. Mussolini, ditador fascista italiano, também desfilou de moto para demonstrar poder https://www.hypeness.com.br/2021/05/mussolini-ditador-fascista-italiano-tambem-desfilou-de-moto-para-demonstrar-poder/
    52. Comercial Marlboro 1997 https://www.youtube.com/watch?v=-HyxEeEU6_4
    53. A luta antifascista dos entregadores de aplicativos https://revistatrip.uol.com.br/trip/a-luta-antifascista-dos-entregadores-de-aplicativos
    54. Entregadores antifascistas: “Não quero gado. Quero formar entregadores pensadores” https://apublica.org/2020/06/entregadores-antifascistas-nao-quero-gado-quero-formar-entregadores-pensadores/
    55. Presidente do Sindicato negocia ao vivo com Datena. Paralisação segue amanhã https://esquerdadiario.com.br/spip.php?page=gacetilla-articulo&id_article=30532
    56. Motociclistas fazem protesto e bloqueiam vias em São Paulo http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/motociclistas-fazem-protesto-e-bloqueiam-vias-em-sao-paulo.html
    57. Motoboys à direita: PSL e Republicanos lideram candidaturas de entregadores https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/motoboys-a-direita-psl-e-republicanos-lideram-candidaturas-de-entregadores/
    58. Inspirados em caminhoneiros, motoboy organizam greve contra aplicativos no dia 1º https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,motoboys-organizam-boicote-contra-aplicativos-no-dia-1,70003348368
    59. Ibope aponta que entregadores de apps não querem carteira assinada https://exame.com/negocios/pesquisa-indica-que-entregadores-nao-querem-carteira-assinada-sera/
    60. Breque dos entregadores completa um ano: “Depois da greve, nada mudou”, avalia Galo https://www.brasildefato.com.br/2021/07/01/greve-dos-entregadores-completa-um-ano-demanda-tempo-para-organizar-essa-categoria
    61. Cerca de 11,4 milhões de brasileiros dependem de aplicativos para ter uma renda https://www.cnnbrasil.com.br/business/cerca-de-11-4-milhoes-de-brasileiros-dependem-de-aplicativos-para-ter-uma-renda/
    62. Jeff Bezos, homem mais rico do mundo, vai ao espaço e agradece a clientes da Amazon: ‘Vocês pagaram’ https://g1.globo.com/economia/tecnologia/inovacao/noticia/2021/07/20/jeff-bezos-voo-espaco.ghtml
    63. Nelson Piquet vira motorista de Bolsonaro em ato antidemocrático https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/nelson-piquet-vira-motorista-de-bolsonaro-em-ato-antidemocratico/.
    64. Piquet Rages After Salazar Shunt | 1982 German Grand Prix https://www.youtube.com/watch?v=dCPAKVm7-po
    65. Repórter: Piquet. Qual é a diferença… https://www.pensador.com/frase/MjEwMTgxMQ/
    66. Nelson Piquet volta a chamar Globo de “Globolixo” em evento com Bolsonaro https://www.uol.com.br/esporte/ultimas-noticias/2021/05/07/nelson-piquet-volta-a-chamar-globo-de-globolixo-em-evento-com-bolsonaro.htm?cmpid=copiaecola
    67. Ex-piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi visita Bolsonaro no hospital. https://www.poder360.com.br/eleicoes/ex-piloto-de-formula-1-emerson-fittipaldi-visita-bolsonaro-no-hospital/
    68. Manobra arriscada https://istoe.com.br/manobra-arriscada/
    69. Banco acusa Emerson Fittipaldi de esconder patrimônio para não pagar dívidas https://www1.folha.uol.com.br/colunas/rogeriogentile/2020/09/banco-acusa-emerson-fittipaldi-de-esconder-patrimonio-para-nao-pagar-dividas.shtml
    70. Corrida organizada por Fittipaldi deve R$ 1 milhão a fornecedores https://www.uol.com.br/esporte/velocidade/ultimas-noticias/2013/08/31/corrida-organizada-por-fittipaldi-deve-r-1-milhao-a-fornecedores.htm?cpVersion=instant-article
    71. Pietro Fittilpaldi visita Bolsonaro após governo aprovar R$ 9,4 milhões https://www.uol.com.br/esporte/colunas/olhar-olimpico/2021/01/26/pietro-fittilpaldi-visita-bolsonaro-apos-governo-aprovar-r-94-milhoes.htm?cmpid=copiaecola
    72. Justiça penhora 14 veículos de Emerson Fittipaldi por dívida de R$ 416 mil https://istoe.com.br/justica-penhora-14-veiculos-de-emerson-fittipaldi-por-divida-de-r-416-mil/
    73. Ecclestone volta a criticar mulheres: ‘Não são fisicamente capazes de dirigir na Fórmula 1’ https://veja.abril.com.br/esporte/ecclestone-volta-a-criticar-mulheres-nao-sao-fisicamente-capazes-de-dirigir-na-formula-1/
    74. Ayrton Senna pit stop commercial Marlboro https://www.youtube.com/watch?v=0C40b3QsGZU
    75. Camel Lotus F1 Advert with Piquet & Nakajima — FMCG International Limited https://www.youtube.com/watch?v=xZQAFr6gByU
    76. AYRTON SENNA — comercial John Player Special (1985) https://youtu.be/mboOXlHkoB0
    77. Ferrari acusada de veicular anúncios subliminares de cigarro https://exame.com/marketing/medicos-acusam-ferrari-veicular-anuncios-subliminares-cigarro-carros-uniformes-f1-554338/
    78. Marcas de cigarro voltam discretamente à Fórmula 1 https://veja.abril.com.br/esporte/marcas-de-cigarro-voltam-discretamente-a-formula-1/
    79. OMS: Brasil é exemplo para o mundo no combate ao tabagismo https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-07/oms-brasil-e-exemplo-para-o-mundo-no-combate-ao-tabagismo
    80. “Cigarro faz bem”, disse Olavo de Carvalho, internado em estado grave em SP com infecção generalizada https://www.diariodocentrodomundo.com.br/cigarro-faz-bem-disse-olavo-de-carvalho-internado-em-estado-grave-em-sp-com-infeccao-generalizada/
    81. ‘Conta do cigarro’ aumenta no Brasil durante a pandemia https://ojoioeotrigo.com.br/2020/09/conta-do-cigarro-aumenta-no-brasil-durante-a-pandemia/
    82. Mortes no Trânsito: Tráfego brasileiro mata 1 pessoa a cada 15 minutos https://mobilidade.estadao.com.br/mobilidade-com-seguranca/mortes-no-transito-brasileiro-mata-1-pessoa-a-cada-15-minutos/
    83. Mensagem de Ayrton Senna — Um Grande Conselho! https://www.youtube.com/watch?v=jNbMPd_Sdg0
    84. Xuxa 1986 — Plano Cruzado (Tem que dar certo) https://www.youtube.com/watch?v=igqTDPNYRr8
    85. Volta Final GP Brasil de 1993 com Torcida Invadindo a Pista — Ayrton Senna Motivacional https://youtu.be/sYpT2bg4zp8
    86. Ayrton Senna se emocionou ao rever imagens da primeira vez que levantou a bandeira do Brasil na F1 https://www.youtube.com/watch?v=NDBjOdUfLmQ
    87. Senna: os deslizes de um herói que foi pessoa comum https://www.dgabc.com.br/Noticia/160056/senna-os-deslizes-de-um-heroi-que-foi-pessoa-comum
    88. Privilégios, salários e paraísos fiscais: os contratos de Senna e Piquet na Lotus http://www.espn.com.br/noticia/341683_privilegios-salarios-e-paraisos-fiscais-os-contratos-de-senna-e-piquet-na-lotus
    89. Desestatização (ou Privatização) Campanha 01 https://www.youtube.com/watch?v=ljQjA21I_d8
    90. Nossa bandeira jamais será vermelha Collor https://www.youtube.com/watch?v=eQQUJ6Hx86c
    91. Ayrton Senna e Audi assinavam primeira parceria há 23 anos na Alemanha https://www.ayrtonsenna.com.br/en/ayrton-senna-e-audi-assinavam-primeira-parceria-ha-23-anos-na-alemanha/
    92. Bolsonaro confirma conversas com Viviane Senna sobre propostas para educação https://istoe.com.br/bolsonaro-confirma-conversas-com-viviane-senna-sobre-propostas-para-educacao/
    93. Está claro que reabertura das escolas não agrava a pandemia, diz Viviane Senna https://esportes.yahoo.com/noticias/est%C3%A1-claro-que-reabertura-das-160000901.html
    94. Cigarros Free — 1996 https://www.youtube.com/watch?v=zXvnDLnJrrs
    95. Ayrton Senna sofre acidente de jet ski http://ayrtonsennavive.blogspot.com/2013/12/ayrton-senna-sofre-acidente-de-jet-ski.html
    96. Bolsonaro quer reduzir imposto e facilitar habilitação para jet ski https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/bolsonaro-quer-reduzir-imposto-e-facilitar-habilitacao-para-jet-ski
    97. Reconstrução da BR-319 pode reviver tragédia socioambiental https://www.brasildefato.com.br/2021/03/31/nova-transamazonica-reconstrucao-da-br-319-pode-reviver-tragedia-socioambiental
    98. Se cobrado, IPVA para helicópteros, barcos e jatos renderia R$ 4,6 bi https://noticias.r7.com/economia/se-cobrado-ipva-para-helicopteros-barcos-e-jatos-renderia-r-46-bi-12092018
    99. O que é o auxílio-diesel. E como os caminhoneiros o recebem https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/10/24/O-que-%C3%A9-o-aux%C3%ADlio-diesel.-E-como-os-caminhoneiros-o-recebem
    100. Quem já andou de Jet Ski sabe a maravilha que é https://www.oantagonista.com/brasil/bolsonaro-quem-ja-andou-num-jet-ski-sabe-a-maravilha-que-e/
    101. Acidentes com motos aquáticas aumentam rigor para tirar habilitação http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/02/acidentes-com-motos-aquaticas-aumentam-rigor-para-tirar-habilitacao.html
    102. Conservação na Amazônia Deve Priorizar Diversidade Aquática, diz estudo https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2020/10/05/conservacao-na-amazonia-deve-priorizar-biodiversidade-aquatica-diz-estudo.htm
    103. https://www.youtube.com/watch?v=FMIWTuTyVTA
    104. Programa Vôo Simples pretende facilitar o uso do hidroavião https://www.acritica.com/blogs/tudo-viagem-a-critica/posts/programa-voo-simples-pretende-facilitar-o-uso-do-hidroaviao-em-rios-e-igarapes-do-amazonas

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